AMA O SILÊNCIO
58-11-30-em> versos publicados em «espaço mortal», pgs 36 e 37
MODO DE SER
São Luís de Odemira, 30/11/58
Ninguém o conhece mas alguns o procuram
poucos o procuraram ontem e muitos o hão-de procurar.
Não consta de nenhum exemplar teratológico
a linguagem e esqueleto existentes
sabe-se apenas que há-de vir que há-de nascer
Além dos poucos que dele falam
outros para não estarem calados
falam de uma para-existência
Sabe-se ainda que imita os homens de condição humilde
que ama os homens sem história e de incolor destino
que assimila facilmente os fácies e os dialectos regionais
tem irmãos que ama em silêncio
e ama o silêncio
Os quatro cantos das figuras quadradas interrogam-se
sobre se terá a sua forma ou a de um polígono qualquer
ou se no centro o atravessará um número obrigatório de apótemas e diagonais
sabendo como se sabe (e isso sabe-se)
que há uma explicação cartesiana
para tudo o que vibra
e uma teoria física o explicará.
Perto de mim assusta-se um pequeno pássaro
olha-me só pelo rumor que fiz de olhá-lo
O pássaro sabe como eu
que nada ambos sabemos
e no entanto sabe que o mistério
terá que desnudar-se antes de amanhã
só com o nosso tentar explicá-lo
descobri-lo abri-lo de mãos presas
Talvez este lugar venha a ser um dia
ponto de romagem internacional
onde agora é apenas uma curva boreal frustrada
e o nosso intenso desejo de olhá-la
A humanidade inteira o procura
dá-se-lhe em pensamento
e ela ou ele cresce oculto
vestido de todas as aparências
retráctil a todas as essências
Cresce a planta onde nunca pés humanos chegaram
cresce até o dia
em que a coincidência se faça
por encontro intuitivo de ser para ser.
***
MODO DE SER
São Luís de Odemira, 30/11/58
Ninguém o conhece mas alguns o procuram
poucos o procuraram ontem e muitos o hão-de procurar.
Não consta de nenhum exemplar teratológico
a linguagem e esqueleto existentes
sabe-se apenas que há-de vir que há-de nascer
Além dos poucos que dele falam
outros para não estarem calados
falam de uma para-existência
Sabe-se ainda que imita os homens de condição humilde
que ama os homens sem história e de incolor destino
que assimila facilmente os fácies e os dialectos regionais
tem irmãos que ama em silêncio
e ama o silêncio
Os quatro cantos das figuras quadradas interrogam-se
sobre se terá a sua forma ou a de um polígono qualquer
ou se no centro o atravessará um número obrigatório de apótemas e diagonais
sabendo como se sabe (e isso sabe-se)
que há uma explicação cartesiana
para tudo o que vibra
e uma teoria física o explicará.
Perto de mim assusta-se um pequeno pássaro
olha-me só pelo rumor que fiz de olhá-lo
O pássaro sabe como eu
que nada ambos sabemos
e no entanto sabe que o mistério
terá que desnudar-se antes de amanhã
só com o nosso tentar explicá-lo
descobri-lo abri-lo de mãos presas
Talvez este lugar venha a ser um dia
ponto de romagem internacional
onde agora é apenas uma curva boreal frustrada
e o nosso intenso desejo de olhá-la
A humanidade inteira o procura
dá-se-lhe em pensamento
e ela ou ele cresce oculto
vestido de todas as aparências
retráctil a todas as essências
Cresce a planta onde nunca pés humanos chegaram
cresce até o dia
em que a coincidência se faça
por encontro intuitivo de ser para ser.
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