MAGIC PUZZLE 1

*** SELECTED WORKS ***

Friday, July 14, 2006

BRINCANDO

bae-1> = brincando às energias

14-7-1995

Às 14: Yoga suástica
Às 15 : Sessão de acupunctura
Às 16: Massagem shiatsu
Às 17: Ritual de Chi Cung com a Drª Deolinda
Às 18: Ritual xamânico
Às 19: Reunião das megatendências
às 20: Palestra na Sociedade Teosófica de Portugal
às 21: intervalo para jantar
às 22: Reflexoterapia do pé
às 23: Reiki c/ imposição de mãos
às 23 : Tai chi Chuan
às 24: Ritual xamânico
à 1 da manhã: Sessão de espiritismo
às 2 da madrugada: reunião no Ordem Rosa Cruz
às 3 da madrugada: leitura do Tarô com o Dr. Vítor Quelhas
às 4 da madrugada: consulta no Silva Mind Control
às 5 da madrugada: Maha Yoga
às 6 da manhã: Ginástica no Geiarca
às 7 da manhã: Reunião no templo Saibaba
às 8 da manhã:
às 9 da manhã:
às 10 da manhã:
às 11 da manhã:
às 12 horas:
às 13 horas:
***

UMA SERPENTE

58-07-14-vi> versos inéditos de afonso cautela – 1958

UMA SERPENTE ALONGA-SE

Ferreira do Alentejo, 14/Julho/58

Uma serpente alonga-se na rua
e retroceder é impossível
os intestinos do réptil são corredores
e a água, dia a dia, sobe o nível
Demasiado tarde vencedores
a serpente voa e vagarosa avança.
O trigo está por nós
e o ar respira-nos.
Vou-me embora até Malaca
no lombo de um elefante
o elefante teve um furo
e os pobres têm barraca.

Vou para a Nova Zelândia
antípoda da de cá
nasci que raio de azar
na merdolândia
nasci na terra do Caracacá.
***

Tuesday, July 11, 2006

O TEMPO ACORDA

1-3- 4352 bytes -julº11>

Faro-Tavira, 11/7/1961

I
Então a dúvida dorme
e o tempo acorda
na última manhã
em que estivemos sós

Um barco de quatro remos
as nossa bocas
molhando-se
mas é em vão que se procuram

As crianças brincam ao sol
ou brincam com o sol?
II
Nessa taça sangrenta
mergulhei cinco dedos de violência
estávamos perdidos
e queimados
tínhamos mais dor viva
do que os deuses sacrifícios

E que terrível paz
a de uma cadeira dormindo
não batia nos berços
não cedia um grama na descida
ao báratro dos anos
não financiava a greve
dos meus vinte sentidos sublevados
III
O amianto de passar na rua luzindo
e todos os olhos em nós
os olhos da hostilidade
é porque não somos nada
sempre com um pranto de rosas a comover o povo
sempre à margem dos que sofrem
sempre iguais a nós próprios
fiéis à nossa infidelidade
sempre um corpo na foz a desfazer-se
sempre a agonia
e os nossos ombros tristes
esse cair da tarde dos nossos ombros tristes
IV
Que me perguntem se choro
que me perguntem se me perdi
que me perguntem se o pântano secou
A resposta está em ti

O que eu queria era não saber
não ter remorsos
era andar às escuras
e em todas as estações não ter amigos
era não beber lágrimas
ou não saber dar-lhes um conteúdo decifrável
era o miolo de sol
desfarelando-se nas mãos

No meio desta esfera
de noite
de vidro
de lágrimas
o som
deste fruto
de morte
de instinto
de luz
uma voz
V
Para a nossa contabilidade
não vem ao caso a sombra
e a luz desce ao nível médio dos olhos
Nas relações dos que se odeiam é tudo mais fácil
do que flutuar num aquário
É tudo mais simples
entre os que se odeiam
Mudar de ópio é inteligente
este ofício de mar desgasta
leva à cova o pobre diabo que ama
e a solidão afinal foi sempre nossa amiga
foi o último amigo a trair

Estendo-me ao comprido
e começo a compreender que apodreço
Do poente um véu leve de nuvens
prende alguns sonhos que eram ventos
a caminho das praias do sul
Mas o véu rasga-se esgarçam-se as nuvens
e as últimas pontas deixam um sinal azulado
na cara um sabor a cinza
o sabor a tédio de sempre
Vamos dar a uma baía com muita gente
onde a morte habitualmente aparece ao fim da tarde
Talvez por nós é que a vida escureceu
e parecia uma daquelas tempestades de mar
que se levantam sem ninguém dar por isso de repente
Esse lobo do mar saberá histórias mais belas
mas nenhuma é mais simples que a nossa
Não há história mais simples do que o nosso ódio
e tão bem contada todos os dias

Se é verdade que há mais dias para os homens
do que ondas no mar da eternidade
+
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AS CRIANÇAS BRINCAM AO SOL

11-7-1961

(versão abreviada teclada de propósito para coincidir com as anotações de Casimiro de Brito/Gastão Cruz )

As crianças brincam ao sol
Ou brincam com o sol?
*
E que terrível paz
A de uma cadeira dormindo.
*
O amianto de passar na rua
Sem ser visto.
*
Não somos nada
Sempre com um pranto de rosas
A comover o povo

Sempre à margem dos que sofrem

Sempre iguais a nós próprios
Fiéis à nossa infidelidade

Sempre um corpo na foz a desfazer-se
Sempre a agonia e os nossos ombros
O cair triste da tarde
Dos nossos ombros
Tristes

Que me perguntem se traí
A resposta era andar às escuras
E em todas as estações não ter amigos
A resposta é beber as lágrimas
Saber dar ao tédio um conteúdo
A resposta será um miolo de sol
Esfarelando-se-me nas mãos.
*
É tudo mais fácil
Nas relações dos que se ignoram
é tudo mais simples
entre os que se desconhecem
e eu estou simplesmente cansado de amar
a solidão afinal
foi o último amigo a trair.
*

Nesta esfera
de noite
de vidro
de lágrimas
o som
deste fruto
de morte
de instinto
de luz.
*
Acordo e começo a compreender
que apodreço.
*
Do poente vem um véu
Leve de nuvens
E prende alguns sonhos
Que podiam ser ventos
A caminho das praias do sul

De repente o véu rasga-se
Esgarçam-se as nuvens
Cai um sinal azul
Na baía sem ninguém
E de repente a vida escureceu
E parecia uma daquelas tempestades do mar
Que se levantam de repente.
***

Monday, July 10, 2006

PRAÇA CAMÕES

1-2 - repórter de rua - segunda-feira, 6 de Janeiro de 2003 - 66-07-10-va> -1966-II>

PRAÇA LUÍS DE CAMÕES

Lisboa, 10/7/1966

Ainda que não deva
pelo respeito que te devo
como português - oh épico -
estou aqui a escrever-te
ou melhor
a falar-te.

Há quem se canse por menos
e - desculpa meu caro Luís -
nem o meu desejo é acusar-te.
Só que ao ver os pombos nos teus ombros
os necessitados pombos
que nunca a ti em vão recorrem
me sinto de ciúmes possuído
e chego (vê tu) a invejar-te.

Acaso conheceste tu a solidão
agora que conheces
a meio da canícula
a relva fresca
em meio da qual relva foram pôr-te?

Conheceste tu acaso o misantropo travo
de estar em Portugal
exilado em mil e 9 centos?
O susto de dobrar a esquina
sem dobrar a espinha?

Oh épico meu
e cuidadoso adorno
das manhãs na praça
a dedilhar miolos (de pão)
bagos de milho e trigo
para alimentar os teus cordeiros
os pombos.

Oh épico de soturna compostura
posto aí assim por municipal postura
é certo
mas em sítio visível e amável e austero
deixa que eu vede o acesso
aos pombos e carteiros da estação em frente
caixeiros e ardinas
funcionários de regresso das cantinas
operários que descem às latrinas (do Camões)
e guardas das sentinas de ali perto
deixa que eu vede o recinto de erva fresca e verde
e sonhe contigo só as glórias
que só agora - séculos depois de morto - conheceste.

Como é o segredo
oh épico
de (sobre)viver para lá de uma vida
tão estúpida como amarga
que levaste a ser grande
uma vida de entornar o leite e partir o copo
(de partir o copo e entornar o leite)
sem haver logo quem nos parta a cara?

Sou (sabes?) empregado da leitaria
com o teu nome - Camões -
na praça onde vives
no solo onde estás séculos depois de morto
e sonho o dia em que o patrão me despeça
para só me deitar na relva aos teus pés
não por ti oh épico (desculpa lá mais esta)
mas pela relva que em Agosto é fresca.

Post-Scriptum: Desejo às vezes
assassinar alguém
matar, mentir, partir e destruir seja o que for
porquê oh épico
porquê se a tua relva é fresca
e faz calor?
***