NEM UM POÇO
58-11-25-em> - versos publicados em «espaço mortal», pgs. 12 e 13
NÃO, NADA, NUNCA
São Luís, 25/11/1958
Nem um poço sem fundo
por nós dentro,
nem ser a diagonal de nada
e existir,
nem esta cabeça pesada,
nem esta vontade, que não cuspo
nem assoo,
de partir, nada me julga, assusta ou cansa,
nada me risca do quadro
onde estou escrito,
nem esta fome, nem este andar,
nem o eco do eco
do eco deste grito,
nenhum ramo, nenhum cheiro,
nenhuma sombra foi mais grata
ao viajante
do que a sombra da árvore
que hei-de querer
quando noutra vida for a vida
que nesta vida levei a vida inteira
a ser,
nem a morte que me arrefece
os dedos, de manhã,
nem os dedos frios
que me ajudam a estar morto
e a ser da morte a morte
ou uma forma irregular de aborto,
de nó que se não desata,
de pesadelo de que se não acorda,
de abcesso que não rebenta.
***
NÃO, NADA, NUNCA
São Luís, 25/11/1958
Nem um poço sem fundo
por nós dentro,
nem ser a diagonal de nada
e existir,
nem esta cabeça pesada,
nem esta vontade, que não cuspo
nem assoo,
de partir, nada me julga, assusta ou cansa,
nada me risca do quadro
onde estou escrito,
nem esta fome, nem este andar,
nem o eco do eco
do eco deste grito,
nenhum ramo, nenhum cheiro,
nenhuma sombra foi mais grata
ao viajante
do que a sombra da árvore
que hei-de querer
quando noutra vida for a vida
que nesta vida levei a vida inteira
a ser,
nem a morte que me arrefece
os dedos, de manhã,
nem os dedos frios
que me ajudam a estar morto
e a ser da morte a morte
ou uma forma irregular de aborto,
de nó que se não desata,
de pesadelo de que se não acorda,
de abcesso que não rebenta.
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