CEPTROS NA ÁGUA
1-3 - sânscrito-va> terça-feira, 7 de Janeiro de 2003-scan
[In «Espaço Mortal», páginas 127-130]
[3-8-1958]
SÂNSCRITO
« Todo o conhecimento intelectual é falso. Só a vida conhece a vida.»
ORÍGENES
Com os ceptros na água e um ditador imposto
ou que no erradio de uma vida incerta
morreu nos areais sem fim de um campo santo
com vida imortal de artéria aberta
Sou a noite que é feto e madrugada
a larga aba de palha de um chapéu solar
Em vindo a morte acolho-me entre a vida
e a vida de outra vida que criar
Ventos e suor e névoa da montanha
entre as incertas veredas do mistério
Companheiros de água com asas de cegonha
são cada vez mais sombra em cemitério
A vila adormeceu ninguém lhe vai tocar
com o infusório dedo apodrecido
Varrem-se as nucas de um festim antigo
levam-se monstros marinhos a nadar
Ninguém as cartas do seu destino deita
de si ninguém mais sabe do que o limbo
ou que a santidade insatisfeita
ou o carácter consumido de um cachimbo
Nem pão na terra nem sal térreo ao mar
onde as formas se banham incompletas
Só o bico dos astros a mamar
nas fecundas de deus maternas tetas
Ó nua avena rural do meu solar
ó meu dúctil espanto de caverna antiga
ó banho túmido de bordel e luar
ó montanha cheia e sem cloaca
Vivo entre os altares da decadência
revivo ao lume vivo da floresta
levo comigo um ramo de consciência
e ao Olho alfandegário a mala aberta
Como na voz de galos irreais
afundam-se os meus dedos na manhã
escorre-me o cheiro da resina irmã
pelo corpo dos meus dedos principais
Estou faminto e como escuridão
moitas que o sol a jorros dessedente
Esta fome de areia fulva e pão
de que reis a herdei e de que mel descende
Entre o funeral dos dias e o passo destas botas
conheci o naufrágio em ritual de forca
e componho na pauta nota a nota
a sinfonia que é só de nome heróica
Desço acompanhado de três almas de santos
subo entre as esferas
componho um ramo de corpos imperfeitos
metade flores metade feras
Sou a vista ardente de um marinheiro louro
o pulso firme do leme que ele guia
e a espuma branca que amanhece em oiro
e o nascer na sua boca a luz do dia
Solitária cinza entre corcéis de fogo
navigabilidade hábil entre espinhos
fogos fátuos na noite de um mar morto
que é o labirinto interior destes caminhos
Suga-se a dor nas veias da mãe terra
informa-se a vigia de que a angústia é finda
Mas não há boca de amor que aceite a guerra
e rasos de água os olhos meus ainda
F., 3/8/58
***
[In «Espaço Mortal», páginas 127-130]
[3-8-1958]
SÂNSCRITO
« Todo o conhecimento intelectual é falso. Só a vida conhece a vida.»
ORÍGENES
Com os ceptros na água e um ditador imposto
ou que no erradio de uma vida incerta
morreu nos areais sem fim de um campo santo
com vida imortal de artéria aberta
Sou a noite que é feto e madrugada
a larga aba de palha de um chapéu solar
Em vindo a morte acolho-me entre a vida
e a vida de outra vida que criar
Ventos e suor e névoa da montanha
entre as incertas veredas do mistério
Companheiros de água com asas de cegonha
são cada vez mais sombra em cemitério
A vila adormeceu ninguém lhe vai tocar
com o infusório dedo apodrecido
Varrem-se as nucas de um festim antigo
levam-se monstros marinhos a nadar
Ninguém as cartas do seu destino deita
de si ninguém mais sabe do que o limbo
ou que a santidade insatisfeita
ou o carácter consumido de um cachimbo
Nem pão na terra nem sal térreo ao mar
onde as formas se banham incompletas
Só o bico dos astros a mamar
nas fecundas de deus maternas tetas
Ó nua avena rural do meu solar
ó meu dúctil espanto de caverna antiga
ó banho túmido de bordel e luar
ó montanha cheia e sem cloaca
Vivo entre os altares da decadência
revivo ao lume vivo da floresta
levo comigo um ramo de consciência
e ao Olho alfandegário a mala aberta
Como na voz de galos irreais
afundam-se os meus dedos na manhã
escorre-me o cheiro da resina irmã
pelo corpo dos meus dedos principais
Estou faminto e como escuridão
moitas que o sol a jorros dessedente
Esta fome de areia fulva e pão
de que reis a herdei e de que mel descende
Entre o funeral dos dias e o passo destas botas
conheci o naufrágio em ritual de forca
e componho na pauta nota a nota
a sinfonia que é só de nome heróica
Desço acompanhado de três almas de santos
subo entre as esferas
componho um ramo de corpos imperfeitos
metade flores metade feras
Sou a vista ardente de um marinheiro louro
o pulso firme do leme que ele guia
e a espuma branca que amanhece em oiro
e o nascer na sua boca a luz do dia
Solitária cinza entre corcéis de fogo
navigabilidade hábil entre espinhos
fogos fátuos na noite de um mar morto
que é o labirinto interior destes caminhos
Suga-se a dor nas veias da mãe terra
informa-se a vigia de que a angústia é finda
Mas não há boca de amor que aceite a guerra
e rasos de água os olhos meus ainda
F., 3/8/58
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