SOMBRA
58-12-01-em> - versos publicados em «espaço mortal», pg.18
O PÃO NOSSO DE CADA DIA
São Luís de Odemira, 1/12/1958
E quando muito católicos
muito fraternos da santa comunhão
os vemos nos jornais da manhã
e nos jornais da tarde voltamos a lê-los.
Quando falam de carácter
e em rodapé explicam o que é carácter
o que é ter carácter
comer e dar carácter.
Quando falam do fernando pessoa morto
para não falarem dos fernando pessoa vivos
quando lapidam um e delapidam outros
quando no cemitério crescem romãs de cabeceira
quando os que estão de bem
e na graça do senhor
já caducos vão avançando e ninguém os olha
e escrevem sonetos
e pintam bonecos
e britam chavecos
e chucham macacos.
Badalam crianças no sino do meu peito.
+
58-12-01-em> versos publicados em «espaço mortal», pgs. 24 e 25
OS CASTORES
São Luís de Odemira, 1/12/1958
Se não furam furassem
se não obram obrassem
nos olhos vidrados
de quem não quer ir
de quem não quer ver
engolir e ganir
com óculos escuros
do assim-assim
do parece mal
do vai-te matar
abram-se as páginas
venha a morfina
tragam os álcoois
o emblema a bandeira
a vontade o guindaste
a caminho do céu
com cara de santo
com sexo de anjinho
entre anjos e arcanjos
cultos e orando
de pele ao pescoço
muito carácter e civilidade
se o sémen perderam
é já da idade
arnica na ferida
um borrão na luz
parto sem dor
dor de barbela
Virgem Manuela
à minha espera
fora de casa
com muito dó
abri-me os braços
cheira-me a flores
sabe-me a puz
quando acabará
esta situação
por demais concreta ?
sabê-lo-á Jaspers
Jaspers foi poeta?
+
63-12-01-vs> versos em nós
SOMBRA
Beja, 1/12/1963
Sombra
água
morte
flor
lentamente a fechar-se
Ramos de sombra
sombra que nos cobre
de anos e de pasmo
de dúvidas e medo
Sombra
Ramos de água
de água e nevoeiro
e mágoa e cativeiro
de dor e de segredo
Água
Ramos de flor
recanto onde esperamos
e o espanto também espera
Flor
Ramos da morte
alva e alta montanha
que nos cega
amor cor de sangue
Morte
Sombra
Água
Morte
Flor
lentamente a fechar-se
A sombra de odiar-nos
a água de nos vermos
a morte de vivermos
a flor de nos ouvirmos
Sombra
água
morte
flor
lentamente e fechar-se
lentamente a fechar-se
lentamente a fechar-se.
+
O PÃO NOSSO DE CADA DIA
São Luís de Odemira, 1/12/1958
E quando muito católicos
muito fraternos da santa comunhão
os vemos nos jornais da manhã
e nos jornais da tarde voltamos a lê-los.
Quando falam de carácter
e em rodapé explicam o que é carácter
o que é ter carácter
comer e dar carácter.
Quando falam do fernando pessoa morto
para não falarem dos fernando pessoa vivos
quando lapidam um e delapidam outros
quando no cemitério crescem romãs de cabeceira
quando os que estão de bem
e na graça do senhor
já caducos vão avançando e ninguém os olha
e escrevem sonetos
e pintam bonecos
e britam chavecos
e chucham macacos.
Badalam crianças no sino do meu peito.
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58-12-01-em> versos publicados em «espaço mortal», pgs. 24 e 25
OS CASTORES
São Luís de Odemira, 1/12/1958
Se não furam furassem
se não obram obrassem
nos olhos vidrados
de quem não quer ir
de quem não quer ver
engolir e ganir
com óculos escuros
do assim-assim
do parece mal
do vai-te matar
abram-se as páginas
venha a morfina
tragam os álcoois
o emblema a bandeira
a vontade o guindaste
a caminho do céu
com cara de santo
com sexo de anjinho
entre anjos e arcanjos
cultos e orando
de pele ao pescoço
muito carácter e civilidade
se o sémen perderam
é já da idade
arnica na ferida
um borrão na luz
parto sem dor
dor de barbela
Virgem Manuela
à minha espera
fora de casa
com muito dó
abri-me os braços
cheira-me a flores
sabe-me a puz
quando acabará
esta situação
por demais concreta ?
sabê-lo-á Jaspers
Jaspers foi poeta?
+
63-12-01-vs> versos em nós
SOMBRA
Beja, 1/12/1963
Sombra
água
morte
flor
lentamente a fechar-se
Ramos de sombra
sombra que nos cobre
de anos e de pasmo
de dúvidas e medo
Sombra
Ramos de água
de água e nevoeiro
e mágoa e cativeiro
de dor e de segredo
Água
Ramos de flor
recanto onde esperamos
e o espanto também espera
Flor
Ramos da morte
alva e alta montanha
que nos cega
amor cor de sangue
Morte
Sombra
Água
Morte
Flor
lentamente a fechar-se
A sombra de odiar-nos
a água de nos vermos
a morte de vivermos
a flor de nos ouvirmos
Sombra
água
morte
flor
lentamente e fechar-se
lentamente a fechar-se
lentamente a fechar-se.
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