JURO 1968
68-09-03-vi-cd> = cópia dos dias
JURO PELA VERDADE
Lisboa, 3/9/1968
Juro pela verdade
Se vou ao encontro do amor
não é por amor
à imortalidade
mas por egoísmo e vaidade
Não é no comboio
que partiu agora mesmo
da estação.
Juro por satanás
Se o mundo se viu sacudido
por sismos à razão
de trinta por segundo
não tive a culpa
e lavo como pilatos daí a minha mão
E sabe Deus quanto em silêncio
me ri das mortes
dos cadáveres agitantes
dos gritos abafados
das crianças entaladas nos escombros
que jamais vou esquecer
Juro que nesse dia
trazia a morte aos ombros.
+
68-09-03-vi-pp> = poemas políticos - 1968-IV> wri
FALA DE UM BURGUÊS ABASTADO (ASSUSTADO)
Lisboa, 3/9/1968
A revolta
já chegou à porta
Dá-se dez tostões a um mendigo
e ele protesta.
A revolta
vai de vento em popa
Dá-se de gorjeta dez tostões
e ainda nos insultam.
A revolta
está cada vez pior
Já se não sai de casa
sem saber se volta
a entrar.
A revolta
a revolta
já mata.
+
68-09-03-vi-fp> = fado português
A MORTE A CRÉDITO
Lisboa, 3/9/1968
Foi costume há tempo
entre os poetas políticos
navios nos olhos
da amante e amar
com forquilhas ardentes
Era o tempo de úberes vacas
inocentes logo a seguir à guerra
ao vitríolo nos olhos
ao tiro na nuca nas esquinas
e nas boas prisões dos crematórios
nazis depois esquecidas
dos pontapés nos tomates.
Era e foi costume do tempo
irradiar de magnetismo animal
os novos caminhos da música
e da arte não deixar fugir
o mais pequeno rato grande.
Juro pela verdade:
se vou ao encontro do amor
não é por amor da imortalidade
não é no comboio que partiu agora mesmo
da estação.
Juro por Satanás:
se o mundo se viu sacudido
por sismos à razão
de trinta por segundo
não tive a culpa
e Deus sabe quanto em silêncio
me ri das mortes
dos cadáveres agitantes
dos gritos humilhados rastejantes
das crianças entaladas nos escombros.
Eu nesse dia trazia a morte aos ombros.
Por isso juro:
foi coetânea
dos navios nos olhos
dos peixes em surdina
das odes de Aragon e Éluard
após Claudel após
Céline a Anatole France:
a boa sorte destes outros defuntos
da imortalidade a crédito:
vos juro e vos garanto.
***
JURO PELA VERDADE
Lisboa, 3/9/1968
Juro pela verdade
Se vou ao encontro do amor
não é por amor
à imortalidade
mas por egoísmo e vaidade
Não é no comboio
que partiu agora mesmo
da estação.
Juro por satanás
Se o mundo se viu sacudido
por sismos à razão
de trinta por segundo
não tive a culpa
e lavo como pilatos daí a minha mão
E sabe Deus quanto em silêncio
me ri das mortes
dos cadáveres agitantes
dos gritos abafados
das crianças entaladas nos escombros
que jamais vou esquecer
Juro que nesse dia
trazia a morte aos ombros.
+
68-09-03-vi-pp> = poemas políticos - 1968-IV> wri
FALA DE UM BURGUÊS ABASTADO (ASSUSTADO)
Lisboa, 3/9/1968
A revolta
já chegou à porta
Dá-se dez tostões a um mendigo
e ele protesta.
A revolta
vai de vento em popa
Dá-se de gorjeta dez tostões
e ainda nos insultam.
A revolta
está cada vez pior
Já se não sai de casa
sem saber se volta
a entrar.
A revolta
a revolta
já mata.
+
68-09-03-vi-fp> = fado português
A MORTE A CRÉDITO
Lisboa, 3/9/1968
Foi costume há tempo
entre os poetas políticos
navios nos olhos
da amante e amar
com forquilhas ardentes
Era o tempo de úberes vacas
inocentes logo a seguir à guerra
ao vitríolo nos olhos
ao tiro na nuca nas esquinas
e nas boas prisões dos crematórios
nazis depois esquecidas
dos pontapés nos tomates.
Era e foi costume do tempo
irradiar de magnetismo animal
os novos caminhos da música
e da arte não deixar fugir
o mais pequeno rato grande.
Juro pela verdade:
se vou ao encontro do amor
não é por amor da imortalidade
não é no comboio que partiu agora mesmo
da estação.
Juro por Satanás:
se o mundo se viu sacudido
por sismos à razão
de trinta por segundo
não tive a culpa
e Deus sabe quanto em silêncio
me ri das mortes
dos cadáveres agitantes
dos gritos humilhados rastejantes
das crianças entaladas nos escombros.
Eu nesse dia trazia a morte aos ombros.
Por isso juro:
foi coetânea
dos navios nos olhos
dos peixes em surdina
das odes de Aragon e Éluard
após Claudel após
Céline a Anatole France:
a boa sorte destes outros defuntos
da imortalidade a crédito:
vos juro e vos garanto.
***
<< Home