AGULHA PERDIDA
63-09-20-vs>
Beja, 20/9/1963
PÃO NOSSO DE TODOS OS DIAS
Pão proibido
pão política de um morto
pão chato
pão eucarístico do senhor
pão ditador
pão dia-de-todos-os-santos
pão dos sustos
pão sangue dos puros
pão intra-muros
pão pátria de bolor
pão dor
pão pim-pam-pum
pão comum
+
63-09-20-vs> versos inéditos de afonso cautela – revisão em 2001-12-07 - 2944 bytes setº-20>
UMA AGULHA PERDIDA
Beja, 20/9/1963
Duas vezes as tuas mãos
duas vezes as horas
repetidas até à exaustão
Exilado da vida tantas vezes
de que chora o tempo
de que vive e se alimenta
de que lágrimas se ocupa
de que fome
e de que circunstâncias?
Na circunstância vivo
na circunstância falo e espero
Quem me responde ou escuta
quem me nomeia
neste exílio concreto de veludo
de passos na sombra
de sombras na penumbra
de penumbras na alfombra
Uma agulha perdida
Um resto de esperança
Um istmo de esperança
agarrando-se à vida
como aquela criança
que se julga esquecida
O resto mergulhado em bruma
uma caravela que espelha a solidão
e fala
Que ramos de sombra
ramos de água da sombra que nos vela
que arestas de bruma
que nos cega
que alva morte
alva montanha de morte
te espera
que flor de sangue
se abriu e nega
a quem a colhe?
Que nuvem ou música
que espanto de existir
que sombra de nos vermos
que música de ouvirmos
nos revela?
Que tombo
que agonia
a fechar-nos lentamente?
Palavras que eu uso moderadas
ao ritmo que aprendi e esqueço
Lágrimas passadas
versos absurdos
infinitamente recomeçados
mãos
são testemunhas vivas
que uma enxada encontrou
Esquecer
se fosse fácil esquecer
explicar onde estamos e porquê
esquecer
perder a pista do regresso
e começar de novo
e de cansaço adormecer
para sempre
recomeçar
***
Beja, 20/9/1963
PÃO NOSSO DE TODOS OS DIAS
Pão proibido
pão política de um morto
pão chato
pão eucarístico do senhor
pão ditador
pão dia-de-todos-os-santos
pão dos sustos
pão sangue dos puros
pão intra-muros
pão pátria de bolor
pão dor
pão pim-pam-pum
pão comum
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UMA AGULHA PERDIDA
Beja, 20/9/1963
Duas vezes as tuas mãos
duas vezes as horas
repetidas até à exaustão
Exilado da vida tantas vezes
de que chora o tempo
de que vive e se alimenta
de que lágrimas se ocupa
de que fome
e de que circunstâncias?
Na circunstância vivo
na circunstância falo e espero
Quem me responde ou escuta
quem me nomeia
neste exílio concreto de veludo
de passos na sombra
de sombras na penumbra
de penumbras na alfombra
Uma agulha perdida
Um resto de esperança
Um istmo de esperança
agarrando-se à vida
como aquela criança
que se julga esquecida
O resto mergulhado em bruma
uma caravela que espelha a solidão
e fala
Que ramos de sombra
ramos de água da sombra que nos vela
que arestas de bruma
que nos cega
que alva morte
alva montanha de morte
te espera
que flor de sangue
se abriu e nega
a quem a colhe?
Que nuvem ou música
que espanto de existir
que sombra de nos vermos
que música de ouvirmos
nos revela?
Que tombo
que agonia
a fechar-nos lentamente?
Palavras que eu uso moderadas
ao ritmo que aprendi e esqueço
Lágrimas passadas
versos absurdos
infinitamente recomeçados
mãos
são testemunhas vivas
que uma enxada encontrou
Esquecer
se fosse fácil esquecer
explicar onde estamos e porquê
esquecer
perder a pista do regresso
e começar de novo
e de cansaço adormecer
para sempre
recomeçar
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