RELÓGIO DE SAL
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SER A META DE SANGUE
Tavira, 12/6/1961
Ser a meta de sangue
a meio da estrada
e falar
no mais oculto canto subterrâneo
falar aos surdos
desta pátria
de solidão.
+
1-1 - quarta-feira, 8 de Janeiro de 2003-scan - 61-06-12-vp>
SE EM VEZ DE ESCREVER
[Publicado em «Caderno Alfa – Poesia 1» - Coimbra, Fevereiro de 1964]
Tavira, 12-Junho-1961
Se em vez de escrever
Dormisse
Se do tecto descessem
Em vez de aranhas
Cordas
Se no côncavo das horas
Em vez de te encontrar
Te matasse
Era para ti
O que restar de mim
E nunca existiu
Chamas para te inventar
Na ponta de uma lança
Amor
Ponto cardial do tempo
Onde incomensurável
Cresces
E o mar
É só a tua ausência
Que ficou
Só
A roda sem fim
Sem meio
E sem princípio
Do infinito.
+
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RELÓGIO DE SAL
Faro, 12/6/1961
I
pés de sol
em chão verde
chão
pés de mesa
em vão
de onda
ou escada
pés de múmia
na pele
na água
na sombra
hoje ontem amanhã
canção incompleta
II
Um rato seco
pedra sobre pedra
apenas o rastro
o dado no telhado
o cisco
o lápis do cabelo
seco
a nora
finge a magra esfinge
seca do seu osso
que roeu seco
e duro pouco
o flanco
a raiz das palavras
o símbolo da água
um veio atmosférico nos peixes
de respiração sanguínea
seca
declives de amoras
entre parêntesis
um rato
um rapto
pedra sobre pedra
um rato
seco
Ramo seco
em ponto morto
a flauta
de aflitas sedes
de crianças fulvas
de jardins suspensos
de sonoras sedes
água de ignorância
que nunca mais invente
que nunca mais se lembre
que se radique
que mova e dissolva
seco monólogo
diálogo
seco
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